Wednesday, 30 January 2008

Soltar as amarras...

Soltar as amarras...

Saltar bem alto.
Abrir as asas e correr.
Voar nas ondas da Vida.
Mergulhar no azul profundo do Céu.
Ser livre.Ser.


Libertar o Amor.
Fechar na mão o Mundo.
Subir a muralha do Tempo.
Encerrar em nós a Totalidade das coisas.
Ser tudo.Ser.

Levantar âncora...

(...espero de tudo, deste novo momento...isto, isto é tudo o que quero...ou simplesmente, é só mais um conjunto de palavras para me dar a mão...e aconchegar o coração...)

Monday, 28 January 2008

Olhar...

" Os olhos da mulher eram de pedra negra, basalto talvez, e de frio, e traçavam linhas rectas perfeitas, pousando tristes sobre o essencial. Tinha os cabelos levemente despenteados, e a José apeteceu passar a mão sobre os cabelos daquela mulher linda e dizer menina e dizer menina, apeteceu-lhe passar a mão como uma brisa, só a palma da mão suave, e os dedos, os dedos, as pontas dos dedos entre os cabelos, a entrarem lentos entre os cabelos, a passarem lentos, e José a dizer menina, a dizer menina. E, em José, a mágoa desesperada de ter perdido todas as certezas. Um homem sem certezas perde quase tudo de ser homem(...)Mulher, a tua pele branca foi um verão que quis viver e me foi negado.Um caminho que não me enganou.Enganou-me a luz de olhos foscos das manhãs revividas(...)Não há manhãs para reviver, sei-o hoje. Não se podem construir dias novos sobre manhãs que se recordam."

José Luís Peixoto, "Nenhum Olhar".



Damien Rice,"I can't take my eyes of you".

Wednesday, 23 January 2008

Para à frente é que é o caminho...

"Ainda que o peso do meu peito seja custoso, qual é o peso de um abismo?, ainda que me sinta um cego a crescer sem olhos para um precipício, tenho de me levantar desta cama.Tenho de levantar estes braços que não são meus, tenho de levantar estas pernas que não são minhas, mas de um rochedo(...)Ainda que caminhe pela noite ao meio da tarde, ainda que no pico do sol seja o mais negro da noite e dentro da noite seja noite também, por tudo ser noite aos meus olhos, tenho de me levantar desta cama. Mesmo que seja para sofrer sofrer, tenho de ir de encontro àquilo que serei, por ter sido isto e não poder fugir, não poder fugir de me tornar alguma coisa".

José Luís Peixoto, "Nenhum Olhar".

Sunday, 20 January 2008

Tardes de Domingo...


You're beautiful so silently
It lies beneath a shade of blue
It struck me so violently
When I looked at you

But others pass, the never pause
To feel that magic in your hand
To me you're like a wild rose
They never understand why

I cried for you
When the sky cried for you
And when you went
I became a hopeless drifter
But this life was not for you
Though I learned from you
That beauty need only be a whisper

I'll cross the sea for a different world
With your treasure, a secret for me to hold

In many years they may forget
This love of ours or that we met
They may not know
How much you meant to me

I cried for you
And the sky cried for you
And when you went
I became a hopeless drifter
But this life was not for you
Though I learned from you
That beauty need only be a whisper

Without you now I see
How fragile the world can be
And I know you've gone away
But in my heart you'll always stay

I cried for you
And the sky cried for you
And when you went
I became a hopeless drifter
But this life was not for you
Though I learned from you
That beauty need only be a whisper
That beauty need only be a whisper


Katie Melua,"I Cried For You".

Saturday, 19 January 2008

Questiono-me se são precisas palavras...

Questiono-me se é preciso falar.
Certos momentos, espera-se que se fale, que se diga tudo e mais alguma coisa.Mas, é então que surgem as estúpidas paralisações.Ficamos sem...As personagens principais entram em cena - os olhos. São ditas expressões, frases sem pontuação, sem principio nem fim. Surge o majestoso silêncio. Diz-se e não se diz. Um silêncio ensurdecedor que invade as palavras não ditas.
Termina.Vai-se.Adeus, até um dia,até logo.
Depois, sente-se a falta desse silêncio, que disse tudo.
Às vezes, elas não são precisas. Só atrapalham. É, sim, preciso ter coragem de as dizer no momento (quais as nossas vontades,quais os nossos pensamentos, quais os nossos sentimentos,...). O melhor, é não dizer. É fazer.


Não digas nada!
Não, nem a verdade!
Há tanta suavidade
Em nada se dizer
E tudo se entender –
Tudo metade
De sentir e de ver...
Não digas nada!
Deixa esquecer.

Talvez que amanhã
Em outra paisagem
Digas que foi vã
Toda esta viagem
Até onde quis
Ser quem me agrada...
Mas ali fui feliz...
Não digas nada.

Fernando Pessoa

Friday, 18 January 2008

Escrevendo nas linhas de um corpo...

A mão que principia ao alto
o traço. Rápido
antes de saber, surpresa e gosto.
Uma forma se diz, lábio primeiro,
experiência de nada, a língua alteia-se
sobre um fundo vago que desliza.


Um ombro se desenha, perfil do ar.
A força se forma, delicada,
juvenil seta que prolonga e curva,
alvo de um seio esboçado em branco aberto.
Crespa, como um nervo que entesa, aponta
ao círculo cheio que do corpo arroja,
o golfo elástico de uma anca ao braço
rasga entre vagas livres.


O tronco em chama calma, ascende, acende
a cabeça de suaves veias leves.
E a boca sóbria sem muros abre-se ao ar,
de um obscuro centro conjugados arcos
libertam-se em cadeia firme e alta,
sustidos por uma espádua onde se dobram,
e retensos se erguem nomes novos.

O muro interior soprado, toalha de ar,
dança à distância da mão regendo o corpo,
rede viva de veias sem limites
que altos dedos trémulos conduzem
à clara praia onde se lêem linhas.


António Ramos Rosa

Thursday, 17 January 2008

Do sofrimento (de não conhecer)...

"Penso: Talvez o sofrimento seja lançado às multidões em punhados e talvez o grosso caia em cima de uns e pouco ou nada em cima de outros. Não a dor, não as pernas trôpegas de nódoas negras, não as costelas partidas a colar entre o sangue pisado, não a cabeça a rachar-se em tentáculos como raios, não a pele das paixões acabadas a abrir rasgões fundos na carne como vergastadas de uma impotência absoluta; mas o sofrimento, permanente e constante, como todos os ossos expostos a furar os músculos e a pele.Dói-me o corpo e é sem o sentir que sofro.(...)
Sei que a minha mulher vagueia pela casa. Vagueia pela casa e não sei o que pensa.Não a conheço. Como se apenas a visse e fosse sempre a primeira vez. Sem a ouvir, sem a sentir, olhando-lhe os movimentos sem história e nunca lhe entendendo as razões. Muitas vezes me fixei na sua testa de menina, no seu olhar intenso, mas nunca pude atravessar as suas paredes, sem portas ou janelas no sentido, nunca pude caminhar nas suas salas e alumiá-las com um candeeiro, por muito sumido, por muito fosco. Sei dela tanto quanto no dia em que me dispus a conhecê-la".

José Luís Peixoto, "Nenhum Olhar".

Wednesday, 16 January 2008

Quando tudo parece vir ter connosco...

(...)" Olho o sol de frente. Penso: se o castigo que me condena se fechar em mim, se aceitar o castigo que chega e o guardar, se o conseguir segurar cá dentro, talvez não tenha de suportar novos julgamentos, talvez possa descansar.Atrás da terra, surge o grande rugido do silêncio. O horizonte avança para mim num incêndio. E distingo-o. Vem a direito, com passos de máquina. O seu corpo maior do que o dos homens, é como o de uma árvore que andasse, é como o de um homem que fosse do tamanho de três homens.
Mais perto, olha-me sem desviar o olhar.Mais perto, a raiva dos seus olhos agarra-me e puxa-me aos poucos. À minha frente, está parado. Olhamo-nos".(...)

José Luís Peixoto, "Nenhum Olhar".

Sunday, 13 January 2008

Como chove...



















Mas isso não impede que eu já comece a ver a Triplicar...

I go to the night, but I think all the time...


Do me wrong, do me right,
Tell me lies but hold me tight,
Save your goodbyes for the morning light,
But don't let me be lonely tonight.

Say goodbye and say hello,
Sure enough good to see you, but it's time to go,
Don't say yes but please don't say no,
I don't want to be lonely tonight.

Go away then, damn you,
Go on and do as you please,
You ain't gonna see me gettin' down on my knees.
I'm undecided, and your heart's been divided,
You've been turning my world upside down.

Do me wrong, do me right (right now baby),
Go on and tell me lies but hold me tight.
Save your goodbyes for the morning light (morning light),
But don't let me be lonely tonight.
I don't want to be lonely tonight.
No, no, I don't want to be lonely tonight.

I don't want to be lonely tonight

James Taylor, "Don't Let Me Be Lonely Tonight".

Thursday, 10 January 2008

Eu sei que...

...a vida, por vezes, e por vezes muitas vezes dá cabo de nós. Eu sei.Tenho muitos momentos em que só apetece...deixar-me cair no chão, e aí ficar. Despejar tudo cá para fora, na tentativa de todos os problemas saírem com as lágrimas. Sinto-me sem rumo, sem objectivos, sem nada...Parece que tudo anda às voltas na cabeça...Dói-me a cabeça.Baixar os braços.Não passa...espero em vão. Começo a escrever, a escrever, a escrever, a ler, a ler, a ler, para tentar esquecer.Manter a cabeça ocupada. Mas lembro-me que não somos só seres racionais, somos emocionais, e vem tudo outra vez ao de cima.Deixa-me sufocada. Como sou frágil...Canto uma canção. Tento ser forte. Tenho de ser forte. Às vezes nem é por mim, é pelos outros. Bolas, já passei por tanto, mas estas coisas são difíceis. Preferia a dor física.
Por vezes, estou a andar na rua, e vejo tudo apressado, ou para o trabalho, ou para levar os filhos ao infantário, ou para apanhar o autocarro, ou para marcar lugar nas consultas no hospital... e eu ali a andar, a andar, a andar..às vezes tenho inveja dessas pessoas.Estão a correr para algo.
Não me venham dizer que o tempo cura tudo, porque eu sei que não. Porque se assim fosse estávamos sempre de bem com a vida.Os problemas chegavam e desapareciam rapidamente, como o tempo passa.
Ontem...
Sentia-me leve. Como se não tivesse de me preocupar com nada. A alma leve, tranquila. Como há muito tempo já não me sentia...
Tudo entrou em mim. Absorvi. Os sentidos despertaram... O nevoeiro da manhã... Inspirei. O cheiro a fresco, a natural, a pessoas que se apressam pelas ruas... Tudo parece tão distante do nosso olhar.
O suspiro desesperado da senhora que esperava pelo táxi. O homem sentado no degrau a cantar uma canção, que agora não me lembro. O sorriso do velhinho do quiosque: " Vai querer um jornal menina?". Nem me importei, que fosse um sorriso mecânico, pronto a cada dia para todos que ali param. A simpatia por interesse.Chamo-lhe. Simpatia, para levar o negócio avante.Mas quis lá saber. O chocar das moedas no bolso do arrumador de carros. Três homens não muito velhos, não muito novos, vestidos com fatos laranja fluorescente, pareciam os caça fantasmas...
A gota fria de chuva que me caiu no nariz... As folhas que brincavam no chão do jardim...Giravam, rodopiavam, paravam.Tornavam a girar, até que se cansavam. A brisa... Fez-me lembrar uma música de Caetano Veloso, "Fica, ó brisa fica pois talvez quem sabe,O inesperado faça uma surpresa....
Um cãozinho a levantar a sua perninha, para a roda, para duas rodas do carro do homem que me tinha tirado o lugar no estacionamento. Como me ri...Ri.Umas gargalhadas à palhaço...E como sabem bem!
A batida da música silenciosa, quando entrei no carro.Misturou-se na minha cabeça, com tudo o resto. Sentia-me leve...
Começou a chover... Caía incessantemente nos vidros... Fechei os olhos por segundos... Que bom! Ficava ali. Eu, o silêncio e a chuva, num abraço longo e apertado...E como eu preciso de um assim... O cheiro a pele, a cabelo, a corpo, a pessoa...
Nem sei por que é que estou a escrever isto tudo...é a fragilidade que vem ao de cima. Talvez para tentar esquecer, para ser forte.

Monday, 7 January 2008

Morning Yearning...


Ben Harper,"Morning Yearning".

Saudade - rasga o peito.
Dor interminável...
Não vejo.
Penso, imagino.
O tempo passa - quero.
O sol brilha...É o sorriso da manhã... Enigmático.
Olhos profundos, olhos que prendem...
Vem, desce pelos raios, atinge-me.
Vem.
Saudade - o coração aperta.
Bate, bate, bate...
A lua surge... branca, pura...
Vejo, sonho, falo.
É Saudade...
É Esperar por...
É não aguentar mais...
É o Vazio...
É o Silêncio...
É Profundo...

Friday, 4 January 2008

O que passou, passou...

2007...

Dor...
Dor maior que o sofrimento.
Sofrimento sem o ter.
A chuva quente,
Vertia...
Queimou a minha face.
Sozinha, enfrentei tudo.Quis.
Toda a minha alma ficou em carne viva.
A vida dói-nos,
A alma treme...
Cessou.
Mas tomo consciência:
Alcancei momentos puros de alegria,
Êxtase,
Levitação.
Chamem-lhe o que quiserem.
Senti...
Dei comigo a rir às gargalhadas...
Dei comigo a sorrir para tudo e todos.
Saí da órbita...
Extremos...
Globo total,
Eu sou.
Dois pólos tão afastados...
Caracterizam-me.
Equador, médio, equilíbrio.
Busco-te...

Fernando Pessoa já dizia que às vezes:
"Cai chuva do céu cinzento
Que não tem razão de ser"(...)


2008...

"Esta madrugada é a primeira do mundo"
"O que se sente exige o momento"
"Apagar tudo do quadro de um dia para o outro, ser novo com cada madrugada, numa revirgindade perpétua da emoção - isto, e só isto, vale a pena ser ou ter, para ser ou ter o que imperfeitamente somos".
(Fernando Pessoa - Bernardo Soares,Livro do Desassossego)

Thursday, 3 January 2008

2008 - um número redondinho, diria...

Faço o balanço do ano que passou, mas para isso tinha que me sentir já neste ano.
Mas em primeiro lugar, vou fazer algo que já devia ter feito em Dezembro...Desculpem-me pais. Um presente tardio...Parabéns pelo vosso aniversário.
Aqui vai ele...

Eu sei, sou sempre a mesma. Atrasada!Atrasada! Nunca é no seu devido tempo.Por enquanto, posso fazer assim.Por enquanto, o vosso tempo parece-me interminável.Mas, eu sei que isso não é assim...
Podia haver mil palavras para vos dizer tudo isto, ou só uma, ou mesmo nenhuma.As imagens falam por si. Basta eu estar/ser com vocês e com todas as pessoas que me rodeiam...
Como o tempo passa...passa...passa...e não para...
(E porque aqueles murcões nunca vos fizeram um vídeo em condições - eu tentei, até tem música e tudo!)