" Os olhos da mulher eram de pedra negra, basalto talvez, e de frio, e traçavam linhas rectas perfeitas, pousando tristes sobre o essencial. Tinha os cabelos levemente despenteados, e a José apeteceu passar a mão sobre os cabelos daquela mulher linda e dizer menina e dizer menina, apeteceu-lhe passar a mão como uma brisa, só a palma da mão suave, e os dedos, os dedos, as pontas dos dedos entre os cabelos, a entrarem lentos entre os cabelos, a passarem lentos, e José a dizer menina, a dizer menina. E, em José, a mágoa desesperada de ter perdido todas as certezas. Um homem sem certezas perde quase tudo de ser homem(...)Mulher, a tua pele branca foi um verão que quis viver e me foi negado.Um caminho que não me enganou.Enganou-me a luz de olhos foscos das manhãs revividas(...)Não há manhãs para reviver, sei-o hoje. Não se podem construir dias novos sobre manhãs que se recordam."
José Luís Peixoto, "Nenhum Olhar".
Damien Rice,"I can't take my eyes of you".
No comments:
Post a Comment