Thursday, 10 January 2008

Eu sei que...

...a vida, por vezes, e por vezes muitas vezes dá cabo de nós. Eu sei.Tenho muitos momentos em que só apetece...deixar-me cair no chão, e aí ficar. Despejar tudo cá para fora, na tentativa de todos os problemas saírem com as lágrimas. Sinto-me sem rumo, sem objectivos, sem nada...Parece que tudo anda às voltas na cabeça...Dói-me a cabeça.Baixar os braços.Não passa...espero em vão. Começo a escrever, a escrever, a escrever, a ler, a ler, a ler, para tentar esquecer.Manter a cabeça ocupada. Mas lembro-me que não somos só seres racionais, somos emocionais, e vem tudo outra vez ao de cima.Deixa-me sufocada. Como sou frágil...Canto uma canção. Tento ser forte. Tenho de ser forte. Às vezes nem é por mim, é pelos outros. Bolas, já passei por tanto, mas estas coisas são difíceis. Preferia a dor física.
Por vezes, estou a andar na rua, e vejo tudo apressado, ou para o trabalho, ou para levar os filhos ao infantário, ou para apanhar o autocarro, ou para marcar lugar nas consultas no hospital... e eu ali a andar, a andar, a andar..às vezes tenho inveja dessas pessoas.Estão a correr para algo.
Não me venham dizer que o tempo cura tudo, porque eu sei que não. Porque se assim fosse estávamos sempre de bem com a vida.Os problemas chegavam e desapareciam rapidamente, como o tempo passa.
Ontem...
Sentia-me leve. Como se não tivesse de me preocupar com nada. A alma leve, tranquila. Como há muito tempo já não me sentia...
Tudo entrou em mim. Absorvi. Os sentidos despertaram... O nevoeiro da manhã... Inspirei. O cheiro a fresco, a natural, a pessoas que se apressam pelas ruas... Tudo parece tão distante do nosso olhar.
O suspiro desesperado da senhora que esperava pelo táxi. O homem sentado no degrau a cantar uma canção, que agora não me lembro. O sorriso do velhinho do quiosque: " Vai querer um jornal menina?". Nem me importei, que fosse um sorriso mecânico, pronto a cada dia para todos que ali param. A simpatia por interesse.Chamo-lhe. Simpatia, para levar o negócio avante.Mas quis lá saber. O chocar das moedas no bolso do arrumador de carros. Três homens não muito velhos, não muito novos, vestidos com fatos laranja fluorescente, pareciam os caça fantasmas...
A gota fria de chuva que me caiu no nariz... As folhas que brincavam no chão do jardim...Giravam, rodopiavam, paravam.Tornavam a girar, até que se cansavam. A brisa... Fez-me lembrar uma música de Caetano Veloso, "Fica, ó brisa fica pois talvez quem sabe,O inesperado faça uma surpresa....
Um cãozinho a levantar a sua perninha, para a roda, para duas rodas do carro do homem que me tinha tirado o lugar no estacionamento. Como me ri...Ri.Umas gargalhadas à palhaço...E como sabem bem!
A batida da música silenciosa, quando entrei no carro.Misturou-se na minha cabeça, com tudo o resto. Sentia-me leve...
Começou a chover... Caía incessantemente nos vidros... Fechei os olhos por segundos... Que bom! Ficava ali. Eu, o silêncio e a chuva, num abraço longo e apertado...E como eu preciso de um assim... O cheiro a pele, a cabelo, a corpo, a pessoa...
Nem sei por que é que estou a escrever isto tudo...é a fragilidade que vem ao de cima. Talvez para tentar esquecer, para ser forte.

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