Há frases bonitas...Até sinto a descarga...
" Tu foste simplesmente à tua vida e eu fui à minha. Como sabes, eu vivo de relâmpagos; contigo partilhei uma trovoada um pouco mais longa do que o habitual.Foi apenas isso."
Nós somos o que somos. Mas somos todos os dias...
"Mas o estilo é uma maneira de ser, não uma farda de fim-de-semana..."
Porque é que não podemos brincar sempre ao faz de conta. Ao menos era tudo brincadeira...
" Vive-se melhor a inventar a verdade todos os dias, dizem-me. Faz de conta que não morres. Faz lá..."
"Como é que eu mato a tua morte?"
Citações, têm o seu encanto na boca de alguém...
"Quando nos conhecemos não eras assim.Citavas-me. Punhas aspas. O teu encanto era essa - tão rara - cintilação de aspas. Sublinhavas a inteligência e a beleza das palavras dos outros..."
Quando é tarde demais para dizer...
" Eras uma tese de doutoramento existencial em movimento. Alguma vez te disse isso? Pensavas tanto e tão bem que intercalavas sempre as citações nos sítios certos.Não precisavas de as engolir e vomitar como pérolas próprias."
Voltando à trovoada...
"Tinhas resposta para tudo, raios te partam."
Agora já não vais a tempo...
"E dizia eu que tu falavas demais. É verdade que não paravas de falar. Mesmo ou sobretudo sem palavras, com o movimento do teu corpo, a força dos teus abraços em carne viva. Às vezes sacudia-te, só por aflição, imagina, uns desenrascanços de timidez que me punham as moléculas a ferver - não sabia abraçar como tu, percebes? Terei sabido recebê-los? Alguma vez te abracei como merecias?"
Como dói...
"Fazes-me falta, merda - já te disse?"
A falta que fazem ao mundo as tuas certezinhas absolutas sobre o Bem e o mal. Certezas um bocado aldrabadas, está claro, com fendas por todos os lados."
Racionais... Racionais demais, merda!...
"Tanto que eu queria agora dar-te o amor total e infantil que tinha para te dar. Racionei-o a vida inteira como a porra de um chocolate de leite - por que vivemos como se pudéssemos repetir tudo de novo, como se pudéssemos alguma coisa?"
Existem coisas, muitas coisas, as quais não dá-mos o devido valor no seu tempo...
"Tinhas o hábito de disparar em voz alta as frases que mais te deslumbravam, sem respeito pelo silêncio no qual os outros liam outras coisas. E eu engatilhava o melhor dos meus sorrisos amarelos, dizia:"É bonito, muito bonito." E então tu entusiasmavas-te e metralhavas um capítulo inteiro. O que era muito irritante no momento - eu estava a ler outra coisa. Mas depois, quando já tinhas ido embora, eu lembrava-me das tuas leituras bruscas, da rouca solenidade da tua voz, e sorria, embasbacado, para essa brusca memória tão meiga de ti".
(Excertos do livro "Fazes-me Falta" de Inês Pedrosa).
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